segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Nutrição em animais de companhia

Uma boa nutrição assume um carácter essencialmente preventivo, que se traduz na boa qualidade de vida do animal.
De todas as patologias, a que assume maior importância actualmente, para Luís Ferreira, docente responsável da cadeira de Nutrição da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, é a obesidade. Um animal é considerado obeso quando o «peso vivo é igual ou superior a 15% relativamente ao peso normal para a sua raça e condição fisiológica». A causa reside, segundo o professor, «fundamentalmente, numa sobrealimentação e no sedentarismo a que sujeitamos os animais de companhia».
A obesidade «aumenta o risco de aparecimento de problemas crónicos como hiperinsulinémia, intolerância à glucose ou diabetes. Também pode contribuir para doenças cardiovasculares e pulmonares», sublinha Manuel d’Abreu responsável da cadeira Princípios de Nutrição Animal do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Évora, acrescentando ainda que «o excesso de peso dificulta a locomoção e pode originar artrites e osteocondrites. Nos gatos a obesidade pode induzir ao aparecimento de diabetes mellitus e de problemas de pele não alérgicos».
Mas há mais. Na verdade, «uma sobrealimentação durante o crescimento está associada a alterações esqueléticas nos cães como a displasia da anca, osteocondroses ou osteodistrofia hipertrófica. Nesta mesma fase, um excesso de cálcio pode provocar o aparecimento de osteocondroses, articulações alargadas e deformações angulares da garupa; quantidades elevadas de magnésio estão associadas à urolitiase; e a deficiência em fósforo pode provocar raquitismo», continua o docente da Universidade de Évora.
Luís Ferreira menciona ainda «as doenças confinadas a áreas geográficas ou a comunidades especiais», de que é exemplo «a pansteatite em gatos (doença da gordura amarela), frequente em animais de comunidades piscatórias, onde têm acesso a grande quantidade de peixe fresco e em especial às suas vísceras».
Tanto as carências como os excessos nutricionais são nocivos para a saúde dos animais de companhia. «Vários problemas de pele podem estar associados a um desequilíbrio de nutrientes como a proteína ou ácidos aminados essenciais, vitamina A, vitamina E, ácidos gordos essenciais e zinco. Alergias ou hipersensibilidade aos alimentos também podem provocar problemas graves de pele», explica Manuel d’Abreu.
Luís Ferreira alerta para outro tipo de alterações de origem alimentar que afectam os animais de companhia e «que têm a ver com o egocentrismo dos seus donos», ou seja, estes «tendem a considerar que o que é bom para eles, em termos nutricionais, é bom para os seus animais».
Também Ana Luísa Lourenço, docente de Fisiologia e Nutrição Animal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e Maria José Gomes, docente de Nutrição e Alimentação Animal da UTAD, chamam a atenção para a questão do proprietário, pois «o desenvolvimento da obesidade, apesar de resultar directamente da má nutrição e do reduzido exercício físico, resulta também, ainda que de forma indirecta, do estilo de vida e da envolvência emocional do dono, pelo que o tratamento e o evitar da recidiva ficam dependentes de factores difíceis de alterar».

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